domingo, 29 de janeiro de 2012

Há cinco possibilidades...

Robert Bringhurst retirado do livro Sobre Ética e Psicanálise de Maria Rita Kehl

Há cinco possibilidades. Primeira: Adão caiu.
Segunda: foi empurrado. Terceira: saltou. Quarta:
ao debruçar-se sobre o parapeito perdeu o equilíbrio.
Quinta: nada digno de nota aconteceu a Adão.

A primeira, de que caiu, é precária demais. A quarta, medo, foi examinada e revelou-se inútil. A quinta, de que nada aconteceu, não interessa. A solução é a alternativa:
saltou ou foi empurrado. E a diferença está apenas

na questão de saber se o demônio
age de dentro para fora ou de fora para
dentro: aí está
o verdadeiro problema teológico.

sábado, 28 de janeiro de 2012

Dez Coisas que Levei Anos Para Aprender

Luís Fernando Veríssimo




1. Uma pessoa que é boa com você, mas grosseira com o garçom, não pode ser uma boa pessoa.

2. As pessoas que querem compartilhar as visões religiosas delas com você, quase nunca querem que você compartilhe as suas com elas.

3. Ninguém liga se você não sabe dançar. Levante e dance.

4. A força mais destrutiva do universo é a fofoca.

5. Não confunda nunca sua carreira com sua vida.

6. Jamais, sob quaisquer circunstâncias, tome um remédio para dormir e um laxante na mesma noite.

7. Se você tivesse que identificar, em uma palavra, a razão pela qual a raça humana ainda não atingiu (e nunca atingirá) todo o seu potencial, essa palavra seria "reuniões".

8. Há uma linha muito tênue entre "hobby" e "doença mental".

9. Seus amigos de verdade amam você de qualquer jeito.

10. Nunca tenha medo de tentar algo novo. Lembre-se de que um amador solitário construiu a Arca. Um grande grupo de profissionais construiu o Titanic.

quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

Moulin Rouge


Um dos meus filmes preferidos com músicas maravilhosas...



"All you need is love"

quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

Amizade verdadeira

Uma música linda do Coral Jovem do Rio.
Ouçam com muito carinho

Deixo aqui, essa linda homenagem aos meus amigos grandes, pequenos, próximos, afastados, esquecidos, presentes, aos que me consideram sem eu saber e aos que consideram sem que saibam..



terça-feira, 24 de janeiro de 2012

I

Cora Coralina

" Nada mais belo na vida que o pão, o vinho e a água.
O pão para a fome.
A água para a sede.
O vinho para a alegria.
As ofertas da terra.
de resto não carecemos.
Vêm por acréscimo."


segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

Ao Amor Antigo

                              Carlos Drummond de Andrade



O amor antigo vive de si mesmo,
não de cultivo alheio ou de presença.
Nada exige nem pede. Nada espera,
mas do destino vão nega a sentença.

O amor antigo tem raízes fundas,
feitas de sofrimento e de beleza.
Por aquelas mergulha no infinito,
e por estas suplanta a natureza.

Se em toda parte o tempo desmorona
aquilo que foi grande e deslumbrante,
a antigo amor, porém, nunca fenece
e a cada dia surge mais amante.

Mais ardente, mas pobre de esperança.
Mais triste? Não. Ele venceu a dor,
e resplandece no seu canto obscuro,
tanto mais velho quanto mais amor.



sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

A princesa e o sapo

Luís Fernando Veríssimo


Era uma vez uma bela donzela que caminhava pela beira de um rio quando ouviu um “psiu”. Era um sapo, que lhe contou que na verdade era um príncipe amaldiçoado, transformado em sapo por uma bruxa malvada com poderes mágicos. Se donzela o beijasse, o sapo voltaria a ser príncipe. A donzela acreditou no sapo, beijou-o, ele se transformou de novo em príncipe e os dois se casaram e viveram felizes para sempre.
Anos depois outra donzela teve a mesma experiência. Ouviu a mesma história, sobre a maldição da bruxa que transformava qualquer coisa em outra coisa e fizera o príncipe virar sapo. A donzela concordou em beijar o sapo para livrá-lo da maldição, com uma condição:
− Beijo de língua, não.
E viveram felizes para sempre.
Muitos anos mais tarde, depois da revolução industrial, uma donzela desempregada caminhava pela beira do rio e ouviu a mesma história de um sapo. Concordou em beijá-lo, mas o sapo se transformou num príncipe muito feio, talvez devido à poluição do rio. A donzela protestou e ouviu do príncipe:
− Ué, pra quem já beijou sapo!
Mas casaram-se e tiveram uma vida difícil para sempre, porque o príncipe, inclusive, perdera tudo com o fim do feudalismo.
Já no início do século XX, a mesma história. “Psiu”, sapo, bruxa com poderes mágicos, beijo, tudo igual. Com apenas um instante de hesitação até que se esclarecesse um ponto:
− Precisa ser donzela?
Não precisava. Casaram-se e viveram, etc.
Anos sessenta. A mesma história, com uma variação: a moça era feminista. Ouviu o que a bruxa com poderes mágicos que transformava qualquer coisa em outra coisa fizera com o príncipe, e concluiu:
− Alguma você andou aprontando!
E solidarizou-se com a bruxa e chutou o sapo.
Jovem empresária do século XXI caminhando pela beira do rio artificial do seu condomínio fechado ouve o “psiu”, depois a conversa do sapo, e − raciocina em voz alta:
− Um príncipe, hoje, não vale muita coisa. Mas imagina o que eu posso ganhar com um sapo falante, só em cachês!
E ela fez muito dinheiro e viveu feliz com o sapo numa gaiola para sempre.
Anteontem. Jovem ouviu a proposta do sapo, mas não decidiu em seguida. Procurou seu consultor financeiro, que lhe lembrou que nada é mais valioso no mercado, hoje, do que informação privilegiada como a que o sapo lhe passara.
E aconselhou:
− Esqueça o sapo e encontre essa bruxa!
Com seus poderes mágicos a bruxa poderia transformar moeda fraca em moeda forte, nominativas em preferenciais... Era a solução para a crise!

terça-feira, 17 de janeiro de 2012

Humor e Orgulho

O caderno

Uma linda homenagem ao eterno e fiel companheiro de muitos.
Em páginas brancas criamos nossa vida, nossos amores, nossas expectativas, nossas dores.
Um pouco de muito, um muito de pouco em páginas e páginas, presente passado e futuro.



Composição: Toquinho/Mutinho
Sou eu que vou seguir você
Do primeiro rabisco até o bê-a-bá
Em todos os desenhos
Coloridos vou estar
A casa, a montanha, duas nuvens no céu
E um sol a sorrir no papel
Sou eu que vou ser seu colega
Seus problemas ajudar a resolver
Sofrer também nas provas bimestrais
Junto a você
Serei sempre seu confidente fiel
Se seu pranto molhar meu papel                                             
Sou eu que vou ser seu amigo
Vou lhe dar abrigo
Se você quiser
Quando surgirem seus primeiros raios de mulher
A vida se abrirá num feroz carrossel
E você vai rasgar meu papel

O que está escrito em mim
Comigo ficará guardado
Se lhe dá prazer
A vida segue sempre em frente
O que se há de fazer ?

Só peço a você um favor
Se puder
Não me esqueça num canto qualquer

segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

As sem-razões do amor

Carlos Drummond de Andrade



Eu te amo porque te amo,
Não precisas ser amante,
e nem sempre sabes sê-lo.                                         

Eu te amo porque te amo.
Amor é estado de graça
e com amor não se paga.

Amor é dado de graça,
é semeado no vento,                                                                    
na cachoeira, no eclipse.
Amor foge a dicionários
e a regulamentos vários.

Eu te amo porque não amo
bastante ou demais a mim.
Porque amor não se troca,
não se conjuga nem se ama.
Porque amor é amor a nada,
feliz e forte em si mesmo.

Amor é primo da morte,
e da morte vencedor,
por mais que o matem (e matam)
a cada instante de amor.

sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

A promoção

Maria Dolores

Resplendia o jardim celeste em pleno Espaço.
Era o maravilhoso dia
De alto deslumbramento
Do encontro de união e de alegria
Dos que haviam servido, passo a passo,
Nas tarefas do amor sem recompensa
Na Terra, onde o egoísmo
Tanta vez se condensa.

Era uma nesga azul de solo rarefeito
Matizada de flores
Bordadas de arabescos multicores
Onde podia respirar apenas]quem já pudesse irradiar
As vibrações serenas
Da fé sublime alçada ao bem perfeito.
Não eram muitos os conquistadores
Daquela posição de excelsos resplendores;

Quarenta e dois Espíritos somente,
Todos eles modelos de bondade,
Eram ali o escol da Humanidade,
Em atitude calma e reverente
Esperando a sonhada promoção
Que constaria
Do poder de elevar-se à próxima ascensão.
Na luminosa e ilustre confraria

Estavam sacerdotes de renome,
Filósofos, notáveis pensadores,
Nobres mulheres, santas heroínas,
Monges mostrando frontes peregrinas,
Jovens que haviam sido vencedores
De tentações terríveis...
Todos trocavam frases de altos níveis...

Somente alguém, ali, em meio a tudo,
Que era festa de brilho e de beleza,
Parecia um mendigo triste e mudo,
Era o irmão Jonaquim,
Desconhecido entre os demais...
Vestia-se com peles de animais,
Remarcadas de lama...

 Na expressão rude e feia,
Exibia sinais de sangue, lodo e areia;
Jazia ele a um canto, humilde e pensativo,
Enquanto o grupo conversava em festa.
Chegando o instante, enfim,
Da nobre promoção;
Aquele dos presentes que tivesse
O menor peso espiritual
Seria alçado à frente

Do caminho esplendente
Para mansões mais altas e mais belas
 Da Vida Universal.
Vieram ao recinto os dois encarregados,
Ambos chamados Anjos da Balança,
E os candidatos sem qualquer despeito,
deixaram-se pesar num instrumento perfeito
Que lhes patenteava
A evolução imensa...

E o peso de cada um
Era leve, tão leve,
Que não se via quase
Uma pequena base
Para que se notasse a diferença...
O recatado Jonaquim
Ficou de longe, muito ao longe,
E sendo o último no exame foi chamado por fim.

Ele veio acanhado,
Pés descalços no apoio de um bordão,
E um dos dois mensageiros perguntou:
-          Jonaquim, meu irmão,
Dizei: qual foi na Terra a vossa religião?
Precisamos aqui de vossos dados
Para serem por nós
Devidamente revisados.
No entanto, Jonaquim, humilde, respondeu:
-          Anjo bom, sou sincero... Crede!...

Eu Não tive sobre a Terra a fé pregada,
Acreditei, como acredito agora
Na presença de Deus que nos guarda e aprimora,
Entretanto,
Por mais que eu desejasse procurar
Um templo ou algum lugar
Para aprender como se adora a Deus,
Nunca pude sair
Da choça em que morei, ao pé de antiga estrada,
Onde os que sofrem eram irmãos meus...

Era um deserto a terra em que vivi...
Despendi muito tempo
A transportar crianças e doentes
Que ansiavam por água em solos diferentes...
Minha estreita choupana
Era uma porta aberta à desventura humana...
Ouvi a confissão de míseros velhinhos
Que clamavam, em vão, pelos parentes,
Agonizando, desvalidos,
E aguardando, debalde, os próprios descendentes...

De quantos eu cerrei, na morte, os olhos baços
Não saberei o número por certo...
Só Deus sabe os que vi morrendo nos meus braços
E os que enterrei, a sós, na penúria sem nome,
E as crianças sem apoio que me buscavam,
Sentindo sede e fome...
 Deus me perdoe se nunca fui às crenças
Para estudar a fé e entender diferenças...

Ouvi dizer, na Terra, que houve um homem
Que nunca descansou, fazendo o bem,
Que amou aos bons e aos maus sem ferir a ninguém!...
Ah! Como desejava tê-lo visto!...
 Dizem que se chamava Jesus Cristo;
Nunca lhe ouvi, no mundo, os lúcidos ensinos
E ouvi também dizer que por serem divinos
 Ele morreu na cruz...

A pequena assembléia
Escutava expectante e enternecida
Aquele que soubera amenizar a vida.
E os Anjos da Balança
Puseram Jonaquim, sob exame preciso,
Em nome de Jesus...
Depois anunciaram num sorriso
Que o velho Jonaquim tinha o peso da luz.


 




quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

Senhora e Senhor

O amor é dádiva que dá sentido à vida. Mesmo depois de tempos de convivência se não houver amor nós nada seremos.
O amor jamais será conveniência, é calor...




Senhora e Senhor ( Titãs)
Veja só o que restou
Do nosso caso de amor
Uma casa com varanda
E um jardim que não dá flor
Uma geladeira cheia de comidas sem sabor
Um programa interminável diante do televisor
Uma lâmpada queimada no lustre do corredor...
O pensamento distante para evitar a dor
O olhar tão desbotado que já não distingue cor
Velhas rugas escondidas
Debaixo do cobertor
Saudades, indiferença
Decadência e mau humor
Tratamento respeitável
De senhora e senhor
Veja só o que restou
Do nosso caso de amor
Uma casa com varanda
E um jardim que não dá flor
Uma geladeira cheia de comidas sem sabor
Um programa interminável diante do televisor
Uma lâmpada queimada no lustre do corredor...
O pensamento distante para evitar a dor

O olhar tão desbotado que já não distingue cor
Velhas rugas escondidas

Debaixo do cobertor
Saudades, indiferença
Decadência e mau humor
Tratamento respeitável
De senhora e senhor





quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

Eros e Psiquê

Fernando Pessoa
Conta a lenda que dormia
Uma Princesa encantada
A quem só despertaria
Um Infante, que viria
De além do muro da estrada

Ele tinha que, tentado,
Vencer o mal e o bem,
Antes que, já libertado,
Deixasse o caminho errado
Por o que à Princesa vem.

A Princesa adormecida,
Se espera, dormindo espera,
Sonha em morte a sua vida,
E orna-lhe a fronte esquecida,
Verde, uma grinalda de hera.

Longe o Infante, esforçado,
Sem saber que intuito tem,
Rompe o caminho fadado,
Ele dela é ignorado,
Ela para ele é ninguém.

Mas cada um cumpre o Destino -
Ela dormindo encantada,
Ele buscando-a sem tino
Pelo processo divino
Que faz existir a estrada.

E, se bem que seja obscuro
Tudo pela estrada fora,
E falso, ele vem seguro,
E vencendo estrada e muro,
Chega onde em sono ela mora,

E, inda tonto do que houvera,
À cabeça, em maresia,
Ergue a mão, e encontra hera,
E vê que ele mesmo era
A Princesa que dormia
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