domingo, 12 de fevereiro de 2012

O trem da vida

  João Prado

          
    
Braços, pernas, cabeça, coração
Eu sou João.
E não me assusto com essa coisa de tristeza.
Num segundo eu viro a mesa,
posso até recomeçar.
Não faço caso de viver contra a corrente,
tenho força suficiente,
tenho Deus pra me ajudar.
Eu vivo a vida
muito além dos desenganos.
Não coloco nos meus planos,
guerra, ódio, preconceito.
A vida corre rapidinho ligeireza.
Perder tempo com tristeza
não me traz nenhum proveito.
É necessário ver o lado bom da vida,
e vivê-la colorida.
Falta cor? A gente faz.
E nesse trem da esperança,
eu sou foguista.
Se é preciso ser artista
nesse ofício eu sou capaz.
E boto lenha na fornalha
e toco em frente.
Deus ajuda quem trabalha
Ele bota fé na gente.
Vez em quando a gente falha,
e o trem pára de repente.
E a esperança vai embora.
E a agonia toma conta.
Justamente nessa hora
que a amargura sempre apronta.
Eu aí respiro fundo,
faço espada dos espinhos,
saio à cata pelo mundo,
junto os cacos no caminho,
e em fração de alguns segundos
o trem sai devagarinho.
Vai com certa displicência,
Natural dificuldade.
Mas no entanto a experiência
faz gerar velocidade.
Alegria é uma parada
tão bonita de viver,
mas a vida é uma jornada,
se a tristeza acontecer
vou passar em disparada,
quase não vou perceber.
Passam campos todo em trigo.
Passa flor, passa canhão.
Passa o campo do inimigo
é um perigo essa estação!
Necessário faz-se o abrigo
Pra morada do perdão.
Passa o rio, passa a ponte,
passa o tédio, passa a dor,
passa o tempo, passa o monte.
Maquinista, meu senhor,
se passares pela Fonte
pare um pouco por favor.
Só não pares na Amargura,
Nem na Dor Desesperada.
A viagem é uma doçura,
vai de sonhos carregada,
gaste o tempo na Doçura
que é a estação mais cobiçada.
Se passares por Carinho
passe bem devagarinho,
pare um pouco se puderes.
No Faz de Conta, o sinal
deu defeito, ficou mal
a desculpa que quiseres.
Na estação da Liberdade
maquinista, maquinista,
por favor, fique à vontade.
Liberdade é uma conquista
deu vontade de parar,
deu vontade de correr,
tenho tempo pra chegar,
tenho pressa de viver.
Quero ter o que contar
quando vida anoitecer.
Sou assim.
E o trem avança,
e carrega uma criança
que não cansa de sonhar.
Quando a vida é um desatino
recupero o eu menino
que aprendeu modificar.
E o trem segue em disparada.
Mágoa, dor, amor, perdão.
Ô viagem complicada
pra chegar à perfeição.
Mas a garra se faz viva.
Braços, pernas e emoções,
lá vou eu locomotiva
rebocando os meus vagões.
Se uns vagões vão carregados
das agruras que vivi,
outros vão superlotados
das razões porque sorri.
E o trem vai desenfreado,
serelepe, acelerado:
PIUÍ, PIUÍ, PIUÍ...

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